por sister Jayanti
A espiritualidade ensinou-me que não podemos simplesmente dizer: “Deixe-me mudar as coisas lá fora”. Em vez disso, é preciso ver o que é que podem fazer para mudar-se a si próprios, de forma a contribuir para um mundo melhor. Da mesma forma, a sustentabilidade é muito mais do que o planeamento de cidades, o planeamento de casas, etc. Ela implica três níveis fundamentais: sustentar o eu, sustentar os relacionamentos e sustentar as comunidades.
Sustentabilidade de dentro para fora
Primeiro, precisamos de reservar algum tempo para irmos para dentro de nós mesmos, criando a perceção correta, a atitude correta e a consciência correta. E somente então podemos começar a pensar sobre como iremos ter um estilo de vida sustentável e um mundo sustentável.
Como é que posso então sustentar-me? A palavra mais importante que me vem à mente é “respeito". Se eu me valorizo e respeito, serei capaz de me sustentar. Ao desenvolver essa auto-consciência, também serei capaz de vos respeitar e, com base nisso, construir um relacionamento sustentável.
Vocês já viram, conheceram ou tiveram algum relacionamento no qual faltou o respeito? "Eu posso amar-te mais tarde, mas primeiro que eu possa desenvolver a capacidade de te respeitar. Só então posso iniciar o processo de te conhecer melhor - talvez mesmo chegando ao ponto de te amar". Este nível de respeito pode levar ao respeito pela comunidade como um todo - não apenas alguns indivíduos, mas a comunidade na sua totalidade, porque eu acredito na força do coletivo.
Quando o coletivo se une, a multiplicação das energias é muito maior do que aquilo que eu posso alcançar sozinha. Se dez pessoas estiverem juntas por três horas, podem conseguir algo surpreendente. Eu poderia passar 30 horas sozinha e ainda assim não conseguiria chegar perto do que poderíamos ter feito juntos. Assim, o respeito pelo coletivo, a comunidade, é verdadeiramente a fundação do progresso para o futuro. E ao olharmos em frente e desenvolvermos este conceito de respeito, então pensaremos não apenas na comunidade, mas também no mundo em geral, e em todo o planeta.
Precisamos de nos perguntar, até que ponto estamos a respeitar esta casa que nos foi dada? Nós não a criámos, mas ela foi-nos dada como um presente. Ela foi descrita como uma pérola azul muito preciosa, que os astronautas puderam ver à distância - a única pérola azul conhecida até hoje... Este lugar muito especial é a nossa casa. A nível pessoal, também devemos questionar-nos, em que extensão eu tenho respeitado e cuidado desta minha casa? Eu respeito todas as formas de vida na minha casa, no meu planeta?
Concluindo, a melhor maneira de conseguirmos estes três níveis de sustentabilidade é através da meditação. Eu estarei numa melhor posição para fazer algo pela sustentabilidade do planeta e do mundo ao meu redor, ao começar em mim mesmo, ao criar um padrão mental correto que, em última instância, significa aceitar a responsabilidade. Se eu pensar que o mundo lá fora é da responsabilidade das outras pessoas - como é que eles fizeram aquilo, eles não deveriam ter feito aquilo, porque é que eles fizeram aquilo, etc. - então não serei capaz de fazer qualquer contribuição para criar uma mudança positiva. No entanto, se pararmos por um momento e nos perguntarmos qual é o nosso papel dentro de tudo isto, então seremos capazes de ver que nós temos a responsabilidade de ajudar a criar um mundo melhor.
Materialismo insustentável
Nas minhas visitas pelas cidades do mundo inteiro, o que mais me impressiona é a desigualdade. Ela cresce rapidamente e não mostra sinais de diminuir. Eu acredito que não são os planos dos governos que irão mudar a desigualdade, mas apenas a consciência humana. Nós temos que mudar este padrão de "cabeças quentes" e "corações frios". Em vez disso, "corações quentes e cabeças frias" podem criar uma grande diferença. A causa profunda da desigualdade de hoje em dia é o materialismo. É algo exuberante e que não existe apenas entre a classe rica, mas também existe entre os pobres. Eu vi favelas com televisores a cores. Foi uma grande surpresa para mim, algo que eu não esperava. O materialismo também toca os temas do consumismo, das mudanças climáticas e da escassez dos recursos. Eu não preciso de acrescentar nada sobre estes assuntos; tem havido investigação suficiente e vocês sabem sobre estas coisas.
No entanto, eu quero relacionar o conceito do materialismo com outra coisa. O materialismo está muito conectado com a matéria. Em vez de entenderem que a vida é cooperação e convivência, o desejo dos seres humanos pela conquista da matéria exterior resultou numa triste realidade.
Tornámo-nos escravos da matéria, e estou a pensar particularmente sobre a matéria que compõe este meu corpo físico. A partir do momento em que eu tento possuir a matéria, torno-me um escravo dos meus próprios sentidos físicos e do desejo de satisfazê-los. Assim, o materialismo e a conquista da matéria levaram na verdade ao esquecimento do ser interior, permitindo que a matéria tomasse conta da minha consciência e da minha mente.
Despertando a consciência humana
A solução para o materialismo é o despertar do coração humano, o despertar da consciência humana, para que eu possa verdadeiramente compreender que a felicidade que eu procuro não será encontrada através de uma casa maior ou um carro maior ou, ainda, uma televisão maior. É na verdade encontrada ao ir para dentro.
Não estou a falar de algo que seja abstrato, e em que eu me sento num canto e medito sozinha. Estou a falar sobre algo que é muito prático e é muito necessário no mundo de hoje. Falo da simplicidade, a capacidade de reduzir as nossas necessidades pessoais, de modo a sermos capazes de diminuir a nossa pegada de carbono, para que possamos encontrar a felicidade que precisamos dentro de nós e não pensarmos que a felicidade está nas coisas externas.
No momento em que descobrimos que os verdadeiros tesouros se encontram dentro de nós, vamos ter um coração aberto, um coração generoso, um coração que é capaz de partilhar. Saberemos então que as coisas realmente não nos pertencem. Estamos aqui neste momento e podemos cuidar delas, mas elas também existem para serem partilhadas com os outros à nossa volta. Acredito que esta é a mudança que pode trazer a transformação na sociedade. É uma mudança que tem que acontecer dentro de nós, mas que ao acontecer dentro de nós, pode também ser partilhada com o mundo.
Finalmente, eu gostaria de encerrar com uma experiência do Fórum do Milênio pela Paz da ONU, no ano 2000. Foi a primeira vez, que os líderes espirituais religiosos foram chamados à ONU. Quando todos estavam juntos, eles falaram acerca de uma única coisa; todos tinham a mesma história: "Temos mais recursos, mais tecnologia, mais informação, mais dinheiro, etc., contudo, os problemas do mundo multiplicaram-se em cada uma destas áreas”.
Durante o Fórum, realizámos que será apenas quando a consciência humana mudar, que estes problemas poderão melhorar. Para mim, esse foi um momento marcante e muito poderoso, em que os políticos perceberam que existe a necessidade de uma mudança de consciência. Contudo, a consciência não pode ser mudada por um decreto. Ela pode começar a mudar quando eu mesmo alcançar essa perceção.
Palestra pública - Maio de 2010, Oxford, Reino Unido
Bk Jayanti Kirpalani é a coordenadora da Brahma Kumaris no Reino Unido, Europa e Médio Oriente.